Titos Pelembe

Captura do Estado

Kulungwana

Texto do Curador

Kant, define o Estado como designado por coisa pública quando conecta o interesse que todos têm em viver no estado jurídico. Weber entende que cada sociedade se forma e opera a partir de condições históricas específicas. O trabalho acabou por se tornar uma atividade fundamental na sociedade capitalista. O jurista italiano Norberto Bobbio, no seu livro “A Arte da Guerra” vê o Estado como estratégia. Hoje este conceito é utilizado no mundo dos negócios. Vêmo-lo, por exemplo, citado no filme "Wall Street", de Oliver Stone, (1990), e constantemente aplicado para solucionar os mais recentes conflitos do nosso dia-a-dia.

Titos Pelembe entende que a captura das coisas condiciona ao acesso ao bem comum e nos coloca assentes numa teia de problemas e posicionamentos desprivilegiadas. Um olhar mais crítico sobre a condição social e política de uma sociedade têm sido levantadas sistematicamente em seu trabalho. A obra “Turbulência da Crise Económica Mundial”, 2009, primeiro apresentada na Bienal da TDM do mesmo ano, retrata as fragilidades apresentadas por vários sistemas de governação.

A incorporação de diferentes objectos e materiais de uso quotidiano no ambiente doméstico é uma referência directa às várias instituições públicas e privadas como símbolos da sua fraqueza. Nesta exposição, Titos traz reflexões sobre o Estado capturado, torna-o num Estado aprisionado e incapaz de poder responder às várias funções que lhe são atribuídas. Estabelece pontes em torno da captura de estados das coisas com possíveis leituras de linguagem da performance, da gestualidade pictórica e da espiritualidade das ações. Olha para o estado das coisas e das sociedades em que nos encontramos, através de ações coletivas, intervenções sociais, apropriação e construção da forma em que dialogam materiais frágeis e duros, descartáveis e apropriados, e como constrói uma manta de retalhos a partir de um conjunto de obras que se apresentam como hipertextos neste universo de vocabulário e códigos visuais que conecta o local e o universal.

Os trabalhos que abordam a interactividade e actividade permanente do jogo de poder como a obra “A reinvenção da ludicidade urbana” — 2019, resultado da pesquisa de mestrado em Artes Visuais em Portugal, foi pensado a partir dos Jogos Populares que passam de geração em geração. A obra foi produzida com a finalidade de criar interacção social nas comunidades desfavorecidas dos bairros periféricos da cidade de Maputo. Ela levanta ainda outras questões relacionadas com a prática artística em Moçambique. Conecta uma série de trabalhos de artistas moçambicanos tais como: A obra “Jogo Democrático”, 2004 de Gemuce, a obra “Caixas: Aperfeiçoamento Sistemático”, 2004 de Jorge Dias; e “Sou Tambor”, 2003 de Marcos Muteweuye.

Que tem em comum toda esta produção

1 Catálogo da Bienal da TDM 2009, ESPAÇOS DE HOJE: desafios e limites, pag. 72 e 72.

2 Catálogo OLHARES E EXPERIENCIA: outros territórios, 2008. Exposição do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique, organizado pelo Instituto Camões de Maputo.

3 Idem

Com a exposição A Captura de Estado, Titos concretiza:

1) Interacção directa com o público, uma vez que para estas obras existirem, necessita de uma acção com o público,
2) Articulação e interacção mental e física entre os participantes;
3) A planificação e estratégia para que a acção aconteça com sucesso de um participante em relação ao seu oponente;
4) O controle sistemático e contínuo para que possamos continuar com o jogo/obra e o carácter efémero da acção;
5) O trabalho ou a actividade se tornar uma acção fundamental;
6) intervenção social e política através da arte.

A Captura de Estado reflete sobre a violência social, que oprime diferentes condições e classes e que caracteriza as sociedades atuais. É também a negação de apropriação das narrativas históricas para justificar o momento que vivemos. Seria o seu retorno, depois de passagens por Portugal, um impulso para uma nova frente de produção da arte contemporânea?

Jorge Dias, Agosto de 2021

 

Comunicado de Imprensa

EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL “A CAPTURA DO ESTADO”, DE TITOS PELEMBE

Inaugura-se a 2 de Setembro, pelas 14.30 horas, em evento restrito obedecendo as limitações sanitárias prevalecentes na Galeria Kulungwana, sita na Estação Central dos CFM a exposição individual “A Captura do Estado”, de Titos Pelembe. Esta exposição estará aberta ao público de 3 a 30 de Setembro de 2021.

No prosseguimento da sua actividade expositiva, a Kulungwana apresenta a quarta exposição individual de Titos Pelembe, denominada “A Captura do Estado”.

Nesta nova mostra, o artista continua a olhar e a reflectir criticamente sobre a condição social e política das sociedades em que vivemos, retratando as fragilidades dos vários sistemas de governação.

Para além dos questionamentos teóricos que o título da exposição põe, Jorge Dias, curador da mesma, afirma que Titos Pelembe “traz reflexões sobre o Estado capturado, torna[ndo]-o num estado aprisionado e incapaz de poder responder às várias funções que lhe são inerentes. Estabelece pontes em torno da captura de estados das coisas com possíveis leituras da linguagem da performance, da gestualidade pictórica e a espiritualidade das acções. Olha para o estado das coisas e as sociedades em que nos encontramos, através de acções colectivas, intervenções sociais, apropriação e construção de forma que dialogam entre materiais frágeis e duros, descartáveis e apropriados e constrói uma manta de retalhos num conjunto de obras que se apresentam como hipertextos neste universo de vocabulário e códigos visuais que conecta o local e o universal”. Concluindo que “’A Captura de Estado’ reflecte sobre a violência social, em diferentes condições e classes sociais que caracterizam as sociedades atuais. É também a negação de apropriação das narrativas históricas para justificar o momento que vivemos”.

Titos Pelembe (n. em Maputo, em 1988), é doutorando em Educação Artística, em Portugal, após ter concluído a licenciatura em Artes Visuais pelo Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC), em 2013, e o mestrado em Arte e Design para o Espaço Público, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em 2020.

Pertenceu a direcção do Núcleo de Arte, entre 2016 e 2018, sendo colaborador activo da Associação Kulungwana, do Museu das Pescas e da Presidência da República. Actualmente, é membro colaborador e investigador do projecto IDENTIDADES Colectivo de Acção|Investigação (ID_CAI).

Tem participado regularmente em exposições no país e no estrangeiro, tendo recebido vários prémios, com destaque para as exposições e concursos Prémios FUNDAC, Bienal TDM, Expo Anual MUSART, Prémios DESCOBERTA, Prémio Camões (Maputo) de Banda Desenhada e Prémio “Revelação-Francofonia”, do Centro Cultural Franco-Moçambicano.